domingo, 28 de novembro de 2010

Tic Tac


"Frantic-tic-tic-tic-tic-tic-tac"

Deitado na minha cama, atiro uma pequena bola vermelha contra a parede, enquanto me deixo cair na preguiça. Os meus olhos semi-cerrados já não conseguem ver bem, a minha mente não está no presente. Apenas consigo pensar no dia seguinte. A única coisa que consigo ouvir, além do barulho da bola a bater na parede e a voltar para as minhas mãos, é o ponteiro do relógio. Ele move-se num passo lento e pesado, parece que quer gozar comigo. Se estivesse disposto a ouvir com mais atenção, possivelmente conseguiria escutá-lo a rir-se de mim. Mais uma vez interrompo o que estou a fazer para fumar um cigarro. A cinza queima vagarosamente, tal como o tempo. O fumo sobe para o tecto do meu quarto, dando mais forma à nuvem cinzenta que observo. Nos recantos dessa mesma nuvem, consigo observar o futuro. Imagino-o, cada vez com mais ansiedade. Vejo-me na praia, debaixo de chuva pesada. Estou acompanhado por uma pessoa, a única com quem eu quero partilhar esse momento. Curiosamente, à medida que os meus olhos se fecham, as imagens acentuam-se e enchem-se de detalhes. O meu quarto desaparece, assim como o cigarro que segurava há momentos. O sentimento de solidão que sentia desaparece. De repente, sinto-me bem, com os pés na areia e com a chuva a bater nas minhas costas. Nada existe, a não ser eu, a pessoa com quem me imaginava e aquela praia. Sinto a sua mão, cada beijo que damos. Não sei a minha localização exacta e, para ser franco, nem quero saber. Só me importa o que estou a viver, não quero que este momento acabe. O que é isto? O vento que batia dá lugar a um calor infernal, o que estou a viver fica, de repente, envolvido numa chama, como uma fotografia a ser queimada. Sinto o momento a escapar, mas agarro-me a ele com todas as forças, até as perder. Vejo tudo afastar-se, até só conseguir ver preto. Sinto a barriga a arder. Abro os olhos. Estou de volta ao meu quarto, coberto por fumo. O cigarro que segurava já não se encontra na minha mão, mas sim a queimar a camisola que tinha vestida. Rapidamente pego nele e afasto as cinzas. Foi tudo um sonho, afinal de contas. Olho para o relógio, passaram-se dois minutos. Mas agora não consigo dormir mais. Pego, de novo, na bola vermelha e atiro-a contra a parede, vezes e vezes sem conta. Desta vez consigo ouvir os risos de gozo, cada vez mais altos. E cada vez anseio mais o dia de amanhã.

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